Harry Potter e a Câmara Secreta

Harry Potter e a Câmara Secreta
HARRY POTTER E A CÂMARA SECRETA
Nem Fawkes recupera

Potterish.com ~ Arthur Melo
28 de março de 2008

Considerando o grande contigente de produções que ganham continuações que falham com a postura de seus antecessores, o mesmo poderia ser esperado por “Harry Potter e a Câmara Secreta” (Harry Potter and The Chamber of Secrets – EUA/ Inglaterra – 2002 – Warner). Entretanto, o ocorrido foi o inverso, mas o desapontamento de alguns espectadores mais lúcidos foi imutável.

Dirigido mais uma vez pelo americano Chris Columbus, a segunda jornada do bruxo de doze anos pode sim ser considerado melhor que a primeira. A evolução é clara, ainda que insuficiente. Enquanto muitos longas-metragem destróem a reputação daqueles os quais continuam, Câmara Secreta sustenta o mesmo teor passivo e submisso do primeiro, limitado devido à falta de talento de seu diretor. Não que o roteiro falte demasiadamente com o livro. Este, aliás, é mais fiel ao seu gerador do que a primeira aventura de Harry.

Deixando poucas subtramas interferirem no compasso da história e direcionando-as de modo que contribuam positivamente para o enredo, Steve Kloves melhorou na escrita. Dos textos às descrições de algumas tomadas, a coesão é notória – o que não quer dizer que o excesso de personagens tenha passado despercebido. Não é necessário e nem cabível desenvolver todos os que cruzam o cotidiano de Hogwarts, mas muitos que mereciam uma explicação ou uma abordagem mais clara foram esquecidos e apanhados apenas quando o filme precisava – um ato hipócrita tanto do roteirista quanto do diretor que não se impôs através do poder que possui.

Simplificado no conteúdo e luxuoso na forma, o segundo episódio cresceu junto com seu protagonista, ainda que não o tenha acompanhado. Orçado em 100 milhões de dólares e com produção iniciada algumas semanas antes do lançamento de “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, em novembro de 2001, e findado suas filmagens seis meses antes de sua estréia, o longa teve um tempo curto, deveras, para realizar o que criou. Os efeitos visuais – uma preocupação sempre explícita do diretor – contribuíram para mascarar as falhas da edição de som ensurdecedora da seqüência de Quadribol (mais violenta e empolgante, por sinal) e para criar um clímax muito mais instigador. E a direção de arte (injustiçada pelo Oscar de 2003) foi capaz de dar à luz a um set gigantesco, ainda maior que o salão principal, para descrever em detalhes e capricho a frieza e escuridão do lugar que dá título ao filme. Entretanto, a escuridão só é transmitida pelas paredes.

Se J.K. Rowling conseguiu introduzir uma parcela de terror, mesmo que singelo, em suas páginas quando escreveu o segundo ano letivo da Harry, Rony e Hermione, sem dúvida isso não chegou até o filme. Columbus foi incapaz de inserir o medo e o pavor nas faces dos alunos, tão presente nas letras impressas. Em nenhum momento o calculismo e a habilidade corrupta do Lorde das Trevas instiga os sentidos da platéia, demonstrando sua forma real apenas nas palavras vindas de uma constatação plausível porém previsível do próprio protagonista no final da história. E, se nem ao menos competência de John Williams se fez presente na trilha que acompanha as cenas de suspense, não seria das mãos do diretor em questão que poderíamos esperar algo.

De fato, a relação com o livro é concreta e direta. Suas linhas, frases e parágrafos estão na tela, com poucas alterações e baixos cortes. Mas é um mérito permitido mais pela duração da projeção em comparação à obra escrita do que pelo roteiro em si. E passa longe da função que Columbus exerce da produção. Manter o diálogo com a obra que todos conhecem é crucial e não deixa de ser um ponto crítico, mas jamais essa motivação deve ser confundida com a importância do trabalho do diretor. Talvez Columbus tenha preferido se anular e deixar a fita rolar, ou talvez ele simplesmente tenha sido intimidado pela complexidade que é comandar uma super-produção desse porte. Coerência e fidelidade são cobradas, mas não são sinônimos de imparcialidade sobre uma tarefa. Alguém cometeu um erro pela segunda vez. Voldemort pode até estar esperando o próximo deslize, o cinema não.

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